Mortalidade de peixes na bacia hidrográfica do Rio Vermelho em março de 2024: implementação do programa de monitoramento do Araguaia Vivo
Resumo
Boletim Técnico nº 1Este relatório técnico foi elaborado pela equipe de especialistas do Programa “Araguaia Vivo 2030”, executado pela Aliança Tropical de Pesquisa da Água (TWRA), com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – FAPEG.
O objetivo deste estudo foi levantar evidências que possam contribuir para identificar a(s) causa(s) da mortalidade de peixes ocorrida em março de 2024 e, a partir desse levantamento, propor ações que possam evitar futuros eventos similares e/ou mitigar impactos ambientais e ecológicos na bacia hidrográfica do Rio Vermelho.
Este relatório tem informações parciais, uma vez que continuam sendo analisadas outras variáveis na água e em peixes coletados, que poderão contribuir com mais evidências para explicar a mortalidade de peixes observada. Assim, o presente relatório está fundamentado nas informações físicas, químicas e da comunidade de algas microscópicas (fitoplâncton) que resultaram das análises das amostragens realizadas em 12 pontos de coleta na área que foi observado a mortalidade dos peixes.
As concentrações de oxigênio dissolvido observadas em toda área estudada foram muito baixas, inclusive nas regiões fluviais mais a montante do local do evento de mortalidade. Portanto, é plausível que isso está relacionado com impactos antrópicos no ambiente, desencadeados por efeitos como escoamento pontual ou difuso dos resíduos urbanos, industriais e/ou das atividades agropecuárias nos corpos hídricos desta bacia hidrográfica, não só em uma escala local (na área de estudo) mas também em uma escala regional (acompanhando o corpo hídrico até suas cabeceiras). Este escoamento é rico em matéria orgânica, nitrogênio e fósforo, levando a uma aceleração do metabolismo aquático, por sua vez conduzindo ao consumo maior de oxigênio. Apesar dos baixos níveis de oxigênio dissolvido encontrados na área de estudo, não é possível afirmar que essa tenha sido a causa da mortalidade dos peixes.
O Lago Acará indicou um ponto de atenção maior, uma vez que se destacou dos demais pontos de amostragem pelos: (i) baixos valores do potencial de oxidação-redução, baixo oxigênio dissolvido e menor riqueza de espécies do fitoplâncton e, (ii) valores mais elevados de nitrato, nitrito e elevada densidade de indivíduos de algumas espécies de fitoplâncton.
A cianobactéria Chroocooccus sp1, reconhecida na literatura científica como não-tóxica, foi predominante no Lago Acará. Por outro lado, nesta localidade também foi registrada, mas com baixa densidade, a cianobactéria Anabaena sp1, reconhecida pelo seu potencial tóxico. Portanto, alteração ambientais futuras podem proporcionar o desenvolvimento populacional tanto desta espécie quanto de outras cianobactérias potencialmente tóxicas.
Também é necessário atenção ao canal hídrico que conecta o Lago dos Tigres ao Rio Vermelho. Pois, além do registro de uma baixa concentração de oxigênio dissolvido nesta localidade, foi observada uma grande mortalidade de peixes logo a jusante do ponto de lançamento dos efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Britânia.
Considerando a recorrência de eventos de mortalidade de peixes e as evidências de deterioração da qualidade da água, recomenda-se a implementação imediata de um programa de monitoramento da qualidade da água e das comunidades biológicas bioindicadoras na bacia hidrográfica do Rio Vermelho.
Recomenda-se também a imediata recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APP) às margens do Rio Vermelho e seus afluentes (vegetação ripária) e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras nas proximidades dos cursos d’água, conforme legislação ambiental brasileira.